Narciso fazia parte do grupo de Torgas primeiras, aquelas que foram as expostas na primeira exposição.
Narciso é uma peça tosca, pouco trabalhada: um toque aqui, uma pintura ali, a base e já está… tão simples! Mas há uma força interior que se desprende daquela estranha figura… quase, como se quisesse levantar do solo e da sua condição. Como se aquele olhar sobre si próprio fosse um momento de superação.
Talvez, para nós, Narciso represente simplesmente a velha máxima “Conhece-te a ti mesmo…” Mas há quem o tenha confundido com um demónio e tenha, inclusive, pedido que o retirássemos da sala com temor. Inspirar terror, nunca foi essa intenção…
O Narciso da mitologia, apaixonado por si próprio, tem em comum com o nosso Narciso essa capacidade de olhar para si mesmo. Porém, o Narciso Torga Viva procura no seu interior as forças para se erguer e assumir o seu lugar no mundo, enquanto que o Narciso de Ovídio se envaidece e se te torna indiferente a tudo na sua contemplação.
Narciso já não habita entre nós. Foi ofertado a quem do Narciso mitológico tem muito pouco: alguém com talentos múltiplos, mas sempre disponível para olhar para o outro e se deixar encantar, mais, alguém capaz de reconhecer o artista interior no próximo e o elevar. O nosso Narciso está na companhia certa!