Category Archives: Torgas vivas

Narciso: a superação!

Narciso fazia parte do grupo de Torgas primeiras, aquelas que foram as expostas na primeira exposição.

Narciso é uma peça tosca, pouco trabalhada: um toque aqui, uma pintura ali, a base e já está… tão simples! Mas há uma força interior que se desprende daquela estranha figura… quase, como se quisesse levantar do solo e da sua condição. Como se aquele olhar sobre si próprio fosse um momento de superação.narciso

Talvez, para nós, Narciso represente simplesmente a velha máxima Conhece-te a ti mesmo…” Mas há quem o tenha confundido com um demónio e tenha, inclusive, pedido que o retirássemos da sala com temor. Inspirar terror, nunca foi essa intenção…

O Narciso da mitologia, apaixonado por si próprio, tem em comum com o nosso Narciso essa capacidade de olhar para si mesmo. Porém, o Narciso Torga Viva procura no seu interior as forças para se erguer e assumir o seu lugar no mundo, enquanto que o Narciso de Ovídio se envaidece e se te torna indiferente a tudo na sua contemplação.

Narciso já não habita entre nós. Foi ofertado a quem do Narciso mitológico tem muito pouco: alguém com talentos múltiplos, mas sempre disponível para olhar para o outro e se deixar encantar, mais, alguém capaz de reconhecer o artista interior no próximo e o elevar. O nosso Narciso está na companhia certa!

Paixão: o fruto que engole o coração

No jardim
estava uma árvore,
de fruto sem igual!

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Árvore de tronco  mirrado,
derrengado,
pelo fruto trespassado.

No paraíso,
tentava,
quem a mirava,
a árvore do Bem e do Mal.

Nos seus ramos despontava,
o fruto que inebriava,

mas não satisfazia…
Fruto doce e acre,
que o coração engolia.

Dos seus ramos,
irrompia,
o fruto da paixão.

Passaroco: a espera e o tempo

Sobre o abrunheiro,

O Passaroco,

Esperava atento.

Por entre as sombras e os fulgores,

O silêncio,

De ave parada,

No tempo.

Nem as folhas, nem o vento,

Ousavam quebrar,

Quietude tamanha.

Do Estio as lembranças

Eram o seu alimento,

Mas do seu bico não se ouvia um

Lamento.

Pasaroco abelhudo

Olhos vermelhos ,

Raiados de saudade,

Escutava…

a eternidade!

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O nosso querido Passaroco voou, finalmente…

felicidades ao seu ninho….

 

Asas geladas

Nestes dias em que gelo se entranha nos ossos e os corpos insistem em procurar o quentinho… Nestas noites em que bafo da respiração quase cristaliza perante os nossos olhos é difícil ir para a barraca trabalhar.

A paixão de criar pode ser um fogo intenso, mas as noites convidam ao conforto do lume e torgas só, mesmo, na fogueira…

Assim, o corpo celestial parece dançar sem cabeça, enquanto as asas paradas aguardam voos brilhantes. A cabeça aureolada espera, igualmente, a sua vez para ascender ao topo do angélico ser.

Um anjo nas mãos

Da torga negra virá a luz.

Das cinzas e terra emergirá

O espírito alado,

Capaz do amparo e da bênção.

 Lasca a lasca,

Desponta a graça:

Anjo em construção!

Do desbaste das raízes retorcidas,

Prefiguram-se

as mãos pequenas

em gesto de saudação.

Anjo-custódio,

Do lar, a proteção.

Da magia das torgas,

Brota a gratidão!

Coroa do Advento em Santa Cruz da Trapa

Domingo passado iniciou-se o Advento, o primeiro período de litúrgico, o tempo que prepara o Natal. Segundo o Papa Francisco, “O Advento é o tempo que nos é concedido para acolher o Senhor que vem ao nosso encontro, também para verificar o nosso desejo de Deus, para olhar em frente e prepararmo-nos para o regresso de Cristo.” São vários os símbolos que auxiliam os cristãos nesta preparação. O presépio,  o pinheirinho, os presentes e a coroa de Natal devem recordar a essência de Natal.

O ano passado, as Torgas Vivas aceitaram o desafio de criar uma coroa de Advento para a lindíssima igreja matriz  de Santa Cruz da Trapa. Este domingo chegou, finalmente, o momento de responder ao repto do pároco, Sr. Padre António Júlio. 

Agora, em frente ao altar está a Coroa de Advento. Uma coroa um pouco diferente das habituais, pois para lá das tradicionais 4 velas, que devem ser acesas a cada domingo do Advento, existe mais uma para ser acesa no dia de Natal. As velas encontram-se associadas à fé, a sua chama recorda-nos Jesus, a Luz do mundo. Já o azevinho representa a felicidade e proteção. Neste caso, os ramos dourados evocam a realeza do Senhor que vem. A coroa assenta numa esfera, na qual estão inscritos Alfa e Ómega, a primeira e última das letras do alfabeto grego. A esfera representa a totalidade do Universo, mas também a perfeição e, portanto, Deus, princípio e fim de todas as coisas.

Eu sou o Alfa e o Ómega, o Princípio e o Fim, o Primeiro e o Derradeiro.” Apocalipse, 22:13

O Fogo do Amor : O mistério em combustão

“O Amor é fogo que arde sem se ver”…

assim, cantava o Poeta…

 

Nas raízes sujas da urgueira,

Descobre-se o fogo ancestral,

Que une almas e corpos,

E o invisível amor,

Mostra-se braseira incendiária…

Nas chamas da paixão,

Emergem os sexos,

Do amor pleno,

Sem complexos, nem inibições….

Porque no Fogo do Amor

Incendeiam-se os desejos,

Fundem-se os opostos,

Cria-se eterna luz!

Esfriou…

Depois de um Verão quente que se foi prolongando, as noites frias chegaram…

O frio e a chuva apelam ao aconchego da fogueira e ao regresso dos hábitos invernais. As mangas curtas podem, finalmente, retornar aos seus armários e as lãs fazer a sua aparição. Os cobertores e casacos confortam os corpos, enquanto as bebidas quentes substituem as cervejas geladas.

O frio, também, apela ao recolhimento, o que, cá por casa, significa oficina de Torgas Vivas. Nas noites cerradas trabalha-se mais afincadamente.

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A nova torga vai progredindo: limpa das terra da negra, está, pronta para a fase da transformação.

Será que esta silhueta é capaz de inspirar alguém a adivinhar em que irá esta torga se transformar?

Rino-Rino: a evocação

Possante Rino-Rino

Animal de porte,

que lembra o bravo rinoceronte.

das Áfricas e das Ásias imperador.

 

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Rino-Rino,

lembras os teus irmãos:

brancos, negros, indianos, de Sumatra ou Java,

todos em risco de extinção.

Sim, aqueles que serviram de inspiração

à tua criação,

são caçados, retalhados e usados como mágica poção,

até à total aniquilação.

As tuas pernas curtas, o corpo largo, o focinho comprido, e a presa de marfim

dos nobres perissodáctilos,

serão, apenas, uma recordação?

Rino-Rino

dos verdadeiros unicórnios,

a evocação.