Category Archives: Torgas vivas

Esgadelhada

Não é uma Torga Viva recente.

Não é uma das preferidas do público, mas há uma dignidade muito própria, neste rosto estranho de cabelos alvoraçados.

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Há algo de mulher nesta torga.

As gadelhas entrançadas espalham-se e volteiam no ar. Numa ousada rebeldia que parece não perturbar o rosto. Sim, o rosto, quase sorrindo, permanece sereno.

Há algo de solar nesta torga.

As tranças elevam-se compondo uma auréola. Podia ter sido esboçada por uma criança: um sol sorridente de raios desiguais, raios que esperneiam em direção ao céu e raios que brincam sobre a terra…

Raiz vinda do chão que se ergue em chamas.

Esgadelhada!

Faça-se música!

A pandemia impediu a realização dos eventos em que Torgas Vivas iriam participar nesta época Primavera/Verão. De norte a sul, as exposições e Workshops foram adiados. Claro que a impossibilidade de mostrar o que se faz ao vivo e a cores faz mossa.  Ouvir os comentários e as sugestões, espreitar os sorrisos, os dedos espetados, os olhares curiosos faz falta. Ainda, assim, a COVID não esmoreceu a vontade de criar.

Para o Maio Florido estava prevista uma criação especial, o tronco estava escolhido, o modelo analisado e o plano sonhado. Com o avanço da doença foi preciso confinar e o tronco ficou a secar.

Há dias o desejo venceu e o tronco mudou-se para a oficina. A poeira foi-se acumulando no chão. Horas e horas a fio, limpando, alisando, modelando, esburacando… e a forma foi-se aprimorando. Já falta pouco… os acabamentos finais e com imaginação as notas musicais fluirão!

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Trabalhar com amor

Hoje, quando se celebra o trabalho como direito num contexto que o torna um bem ainda mais precioso, é importante celebrar o dom de poder trabalhar. Trabalhar garante o alimento para o corpo. Mas, o trabalho quando é feito com amor, nutre a alma, dá duplamente.

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Nestes dias, um coração tem ocupado a mente e as mãos. Foi uma oliveira… deu ar, alimento e luz. Agora é um coração que, juntamente, com uma torga oferecida por um amigo, se converterá numa imagem do Omnipresente.

A escultura de Deus está finalmente concluída. Uma Torga Viva que como o próprio Altíssimo se irá revelando.

Um trabalho com Amor!

Desafio pascal

A lentidão dos dias parece impor-se, à medida que as exposições e eventos são desmarcados. Resta-nos o trabalho diário, disciplinado, na oficina. Trabalho, ainda mais, constante nos dias de chuva.

Enquanto, lá fora, medo e esperança se degladiam, nas arenas da televisão e da internet, por cá tenta-se responder a um pedido, em forma de questão: como representar Deus?

Este é um desafio bem adequado aos tempos pascais: será possível extrai-l’O de uma raiz? encontrá-l’O numa torga?

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Poderá a magia primaveril inspirar tamanho feito?

Torgas: o regresso alado

Voltar às torgas é, literalmente, voltar às raízes deste projeto. Foram as torgas que, primeiramente, despertaram a imaginação. Foram as torgas que espicaçaram a ousadia de esculpir. Regressar às torgas é, pois, um exercício de prazer.

Nesta nova ronda, a primeira torga viva é um pássaro. Também aqui há um regresso, a primeira de todas as torgas vivas é o Avessauro, um pássaro dinossauro incapaz de voar. Seguiram-se o Marreco e o Cisne.  Mas na família alada das Torgas Vivas há também o Minorca, o Uh-uh, o Pescador, o Mochito, o Peto Rinchão, a Ave do Paraíso, a Avis Rara, a benfiquista Glória, e a gloriosa Fénix. Agora, mais uma pequena criação se junta às nossas aves. Maçarico já está pronto a voar.

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Cabideiros, outra vez…

Em janeiro, a saga dos cabideiros prosseguiu…

O trabalho foi intenso e um novo cabideiro surgiu na sede da União de Freguesias de Santa Cruz da Trapa e São Cristóvão de Lafões.

Na base deste cabideiro apela-se ao espírito da união. “A união faz a força!” a máxima está cravada na madeira. Num mundo, cada vez mais, dividido faz bem relembrar o velhinho provérbio e, de preferência, entre flores. Este cabideiro é adornado por pequenos vasos nos quais é possível colocar flores!

 

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Mas na oficina, acaba-se já um tronco oliveira, onde um rapazinho se empoleira. Um pedido especial a apresentar muito em breve!

Coroa do Advento

Advento…tempo de esperança!

Quando as luzes se acendem, os corações se alegram e no presépio todos aguardam a vinda do Menino, vela a vela, domingo a domingo, o Natal aproxima-se.

O acender das velas na Igreja de Santa Cruz da Trapa é para nós, ainda mais especial. É tempo de revermos a nossa Coroa do Advento. Adornada de azevinho, a Coroa de Advento Torgas Vivas ilumina a caminhada até ao Natal.

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Coroa do Advento

Na celebração da Imaculada Conceição foi com emoção que contemplámos a torga sob o altar engalanado. No topo Maria Imaculada rodeada de flores, ao centro o Santíssimo Sacrário e o altar, depois, a Coroa de Advento sobre um globo representando o universo com  as letras douradas Alpha e Ómega, guarnecido de azevinho. As letras recordam a citação do Apocalipse “Eu sou o Alfa e o Ómega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim.” (Apocaplipse 22, 13) e o azevinho, pelos seus espinhos e bagas vermelhas, associa-se à cruz e o sangue de Jesus. É, também, símbolo de proteção eternidade.

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Cabideiro?

 

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Com o frio a apertar, parece estranho que se passe tanto tempo na gélida oficina. A verdade é que o entusiasmo aquece. O gosto por criar é tanto que a frieza não entra.

Esta é uma altura de experiências. Das torgas, raízes alicerce deste projeto, a outras madeiras foi um passinho: uns troncos oferecidos e novos projetos surgiram!  Novas dificuldades também… Dia e meio apenas para descascar um tronco.

Um tronco esculpido no qual se podem pendurar roupas. É mais que um simples cabide.  Um cabide de pé? Um bengaleiro? Será que ficaria bonito com bengalas? Cabideiro é o termo usado no Brasil, mas soa estranho.

Este tronquinho irá para um restaurante da vizinhança. Que bom quando os vizinhos nos reconhecem e nos apoiam….

Por onde andas Curupira???

O Curupira no folclore brasileiro representa o guardião das florestas. Dizia-se que este ser mágico travesso atacava todos os que entravam na floresta para caçar ou cortar árvores.

Quase por acaso, a sua figura surgiu numa torga. Quando as imagens da floresta amazónica em chamas nos atormentam, vale a pena revisitar o pequeno ser de pés ao contrário, que assustava todos aqueles que pretendiam fazer mal à floresta.

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A natureza era percebida como entidade poderosa, capaz de alimentar, mas também de castigar os que lhe faltavam ao respeito. Hoje, parece ter sido reduzida à expressão “recursos naturais”. Como se apenas interessasse o que dela pode ser extraído e transformado em dinheiro. Mas que valor tem o dinheiro face à beleza e à vida? Urge recuperar essa consciência do carácter sagrado da floresta.

Por onde andas, agora, Curupira?